Foram meses de trabalho para dar vida ao espaço da memória, aberto agora ao público na quadra do Cacique de Ramos. Berço de músicos e ícone pop do Rio de Janeiro, a história do bloco de carnaval de rua nascido no início dos anos 1960 na zona norte da capital fluminense continua mantendo seu charme intacto. Vale a pena ir ao Ramos nos domingos de feijoada (geralmente no terceiro dia do mês), para respirar plenamente a atmosfera que inspirou artistas como Beth Carvalho e Zeca Pagodinho. É nessas ocasiões, ao ritmo de samba e pagode, que o bairro vira uma família e a vontade de se divertir se torna contagiante.
É com esse espírito que o bloco olha para o seu futuro com atividades de educação musical com os alunos da Escola Municipal Clovis Bevilaque (próximo à quadra), que aprendem a tocar instrumentos de percussão, formando uma mini bateria.
Não há estrangeiros no Cacique de Ramos, até porque os grupos que o fundaram olharam para o Brasil quando criaram o primeiro núcleo. O que distingue esta roda de samba, capaz de atrair milhares de pessoas durante o carnaval no centro da cidade, são, na verdade, os cocares dos indígenas norte-americanos, que durante os desfiles se dividem em alas, dos apaches até os comanches.

É no espaço dedicado à memória do Cacique que Walter Pereira, historiador de Carnaval, reconstitui as fases marcantes do bloco, que nasceu oficialmente em 20 de janeiro de 1961 e que já no início da década de 1970 conseguiu ocupar um espaço permanente, com rodas de samba em sua praça, reveladas ao mundo pela cantora Beth Carvalho no disco "De Pé no Chão" (1978).
Em seus 60 anos de história, o Cacique se tornou sinônimo de samba, graças também ao sucesso de suas músicas, a começar por "Água na Boca", que se tornou um dos hinos do carnaval carioca. Desde então, um movimento se desenvolveu, com reuniões de sambistas — os famosos pagodes — vivos até hoje.
"O Cacique de Ramos é uma história de afetividade, arte e engajamento comunitário construída a muitas mãos e corações, viva dentro de nós e que segue sendo escrita. Por isso o compromisso do Centro de Memória em registrar, preservar e difundir essa trajetória, para que o contato com o ado que nos inspira possa produzir novos afetos e novas histórias", explica Pereira.
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