O bairro de Flores, em Buenos Aires, onde o papa Francisco nasceu e cresceu em uma família modesta, amanheceu nesta segunda-feira (21) em choque com a notícia da morte do argentino de 88 anos.
Diversos moradores realizaram uma procissão até a antiga casa do Pontífice, na rua Varela, número 268, deixando flores, imagens sacras, fotos e velas. Hoje, inclusive, na paróquia local, o religioso será lembrado na homilia de todas as missas programadas, como o Papa do diálogo e dos menos afortunados.
"Estamos tristes, perdemos nosso pastor", murmurou um professor do bairro na capital argentina, onde Jorge Mario Bergoglio frequentou a escola primária (de 1943 a 1948), encontrou sua vocação sacerdotal (1953) e onde celebrou sua última missa antes de se tornar Papa.
Francisco foi ordenado sacerdote em 1969 e sempre manteve grande carinho pela igreja de Flores. "Mesmo quando era arcebispo de Buenos Aires, ele celebrava missas lá e sempre voltava", disse à ANSA um dos padres que cuidam das 'Villas', as favelas, e que prefere permanecer anônimo.
O primeiro Papa latino-americano nasceu em 17 de dezembro de 1936 - filho do ferroviário piemontês Mario José Francisco Bergoglio e da jovem dona de casa Regina María Sívori - na casa em que hoje está reformada, com portas brancas e uma placa que diz: 'O papa Francisco nasceu aqui'.
"É um dia muito triste. Não tenho palavras para descrever o que sinto: uma angústia terrível, uma dor na alma. Francisco não nos ensinou a amar o próximo; ele nos ensinou a amar", acrescentou à ANSA Silvia, uma mulher que assistiu a muitas missas do argentino, sem conter as lágrimas.
Além da antiga residência do Santo Padre, os fiéis argentinos também prestaram homenagens em paróquias da região, onde ele costumava transmitir suas homilias, no jardim de infância do instituto Nossa Senhora da Piedade, em cujo pátio o Papa brincava quando criança, e na igreja onde toda a família participava da missa aos domingos.
Uma das últimas missas públicas que Bergoglio celebrou como bispo de Buenos Aires foi nas ruas de Flores, em Pumacahua e Ramón L. Falcón, em 11 de fevereiro de 2013. O número de pessoas presentes, cerca de 1,2 mil, forçou o bloqueio do trânsito. No final da cerimônia, uma mulher gritou: "Que Deus e a Virgem o façam Papa", e ele sorriu.
Francisco nunca imaginou, mas um mês depois o desejo de seus apoiadores se tornou realidade. "Ele não está morto, ele está conosco para sempre, sempre vivo, porque sempre nos lembraremos dele", concluiu um padre da Basílica de San José de Flores, onde aos 17 anos o Pontífice teve uma revelação e descobriu sua vocação religiosa.
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