Um curta-metragem brasileiro filmado por uma descendente de italianos levará ao palco do Festival de Veneza, entre 28 de agosto e 7 de setembro, uma história ambientada no Pantanal, bioma que luta contra incêndios sem precedentes nos últimos meses.
"Minha mãe é uma vaca", da diretora Moara Rossetto oni e produzido pela Uvaia Filmes, foi selecionado para a mostra Horizontes Curtas (Orizzonti Corti), dedicada a novas propostas de cineastas estreantes ou emergentes, e promete atrair os olhares para a devastação na maior planície inundável do mundo, que já perdeu um recorde de 468 mil hectares em 2024, segundo o MapBiomas.
"Espero que meu filme chame atenção para a crise no Pantanal. Ele é construído como um quebra-cabeças e tem muitas camadas, e uma delas é justamente o Pantanal pegando fogo. Aliás, é maluco pensar que um dos lugares mais úmidos do mundo está queimando intensamente", diz oni em entrevista à ANSA.
Nascida e criada no Jardim Ângela, bairro da periferia de São Paulo, a cineasta e roteirista conheceu o Pantanal em uma viagem quando era criança. Acostumada com o cinza da metrópole, viveu uma "explosão de descoberta e autodescoberta" no contato com a natureza, onde teve sua primeira experiência concreta com a morte: uma vaca abatida para um churrasco. "Isso me marcou profundamente, descobrir a relação entre vida e morte em uma lógica completamente diferente do que eu estava acostumada", afirma.
Seu primeiro curta de ficção é a história de uma menina mandada para o Pantanal porque a vida de sua mãe na cidade grande está em perigo. A partir do contato com uma vaca, ela a por uma "metamorfose", tendo sempre como pano de fundo os incêndios descontrolados no bioma.
"É um filme que acontece em uma dimensão muito mítica e que fala de um amor capaz de criação e transformação, um amor do qual mães e deuses ou deusas são capazes", conta oni, que tem uma trajetória de ativismo e já atuou com a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e a deputada Célia Xakriabá, também indígena, em causas ambientais.
Descendente de imigrantes da Lombardia e do Vêneto (cuja capital é Veneza), a diretora diz que é um "baita presente" ter os italianos como primeiro público de seu filme. "Veneza é realmente um sonho e o reconhecimento do nosso trabalho. É muito incrível chegar nesse ponto", salienta.
E se é verdade que entrar na seleção do festival já é uma vitória, por que não sonhar também com o troféu de melhor curta na mostra Horizontes, considerada um celeiro de novos talentos do cinema? "A gente sempre vai sonhar, e o filme é lindo, prova da criatividade da Moara. É um momento muito importante para temas de mulheres e meio ambiente", reforça Sofia Geld, cofundadora da Uvaia.
"Minha mãe é uma vaca" concorrerá com outros 12 curtas de países como Canadá, China, Estados Unidos, França, Guatemala, Irã, Itália e Turquia. (ANSA)
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